Monday, December 18, 2006

just give a little bit

Porque não devia ser assim. Esta época, devia ser um tempo de entrega, dar um pouco de nós àqueles que mais necessitam de apoio nesta altura do ano, perdoem-me o cliché. Tempo de alegria para todos. Não por ser Natal, mas por as ruas de Lisboa e, porventura, do resto do país serem abrigos frágeis a este tempo gelado que vagueia por Portugal. Foi com este pensamento que decidi participar no Natal dos Sem-Abrigo, na cantina da cidade universitária, nos dias 15, 16, 17 e 18.
Não posso dizer que tenha sido algo surreal ou fantástico, como nas histórias, porque as pessoas com quem falei são de carne e osso, do mais real que há.
Por outro lado, posso dizer que é uma experiência compensadora. Principalmente quando ouvimos, já no final do último dia, uma idosa a desejar-nos que tenhamos "um terço daquilo que demos, porque já é muito!" ou uma menina de 7 anos a desejar-nos um bom natal, enquanto sai do recinto, abraçada a uma boneca que lá lhe deram. Se houvesse algo de mágico nesta experiência seria este sentimento, de tal forma poderoso que fez com que as dores desaparecem e o desânimo se transformasse em alegria.
É, no mínimo, tocante ver como por algo que muitos de nós consideramos banal, como uma t-shirt ou uma camisola, as pessoas se emocionam. Como nos tocam com um olhar, como mudam a nossa maneira de pensar. Como modificam a nossa forma de olhar para as coisas, a maneira como interpretamos esta quadra.
Não posso esquecer as coisas menos boas, porque as houve, como há sempre. Prova disso foi a singular presença de Lili Caneças, que ocupou o recinto durante duas horas, impedindo os voluntários de continuarem o seu trabalho normalmente. Tudo isto para a TVI a filmar a entregar quatro (sim, 4) mantas, com o bónus de ter necessitado de mais de três takes para gravar esse curto momento de tamanha generosidade. É de muito baixo nível (mesmo muito) usar o slogan da solidariedade para promover a sua própria imagem. Isto até poderia ser chocante, não fosse Portugal um país com um suposto jet set que faz comentários como este: "Os sem-abrigo deviam assumir a sua condição" (Paula Bobone).
Deixo um obrigado especial às pessoas que conheci e reencontrei, aqueles que participaram, pois são eles que fazem do NSA (Natal dos Sem-Abrigo) aquilo que ele é. Um espaço de solidariedade e alegria, num mundo cada vez mais virado para o eu.

Wednesday, December 13, 2006

qualquer coisa assim

É qualquer coisa que é capaz de nos fazer rir, sonhar, pensar, chorar. Isso é um bom texto.
Este é um desses:

"Ladies and Gentlemen of the class of ’97... wear sunscreen.
If I could offer you only one tip for the future, sunscreen would be it.

The long term benefits of sunscreen have been proved by scientists; whereas the rest of my advice has no basis more reliable than my own meandering experience.

I will dispense this advice.

Enjoy the power and beauty of your youth. Never mind. You will not understand the power and beauty of your youth until they have faded. But trust me, in 20 years you’ll look back at photos of yourself and recall in a way you can’t grasp now how much possibility lay before you and how fabulous you really looked.

You are NOT as fat as you imagine.

Don’t worry about the future; or worry, but know that worrying is as effective as trying to solve an algebra equation by chewing bubblegum. The real troubles in your life are apt to be things that never crossed your worried mind; the kind that blindside you at 4pm on some idle Tuesday.

Do one thing every day that scares you.

Sing.

Don’t be reckless with other people’s hearts, don’t put up with people who are reckless with yours.

Floss.

Don’t waste your time on jealousy; sometimes you’re ahead, sometimes you’re behind. The race is long, and in the end, it’s only with yourself.

Remember compliments you receive, forget the insults; if you succeed in doing this, tell me how.

Keep your old love letters, throw away your old bank statements.

Stretch.

Don’t feel guilty if you don’t know what you want to do with your life. The most interesting people I know didn’t know at 22 what they wanted to do with their lives, some of the most interesting 40 year olds I know still don’t.

Get plenty of calcium.

Be kind to your knees, you’ll miss them when they’re gone.

Maybe you’ll marry, maybe you won’t, maybe you’ll have children, maybe you won’t, maybe you’ll divorce at 40, maybe you’ll dance the funky chicken on your 75th wedding anniversary. Whatever you do, don’t congratulate yourself too much or berate yourself, either. Your choices are half chance, so are everybody else’s. Enjoy your body, use it every way you can. Don’t be afraid of it, or what other people think of it, it’s the greatest instrument you’ll ever own.

Dance.

Even if you have nowhere to do it but in your own living room.

Read the directions, even if you don’t follow them.

Do NOT read beauty magazines, they will only make you feel ugly.

Get to know your parents, you never know when they’ll be gone for good.

Be nice to your siblings; they are your best link to your past and the people most likely to stick with you in the future.

Understand that friends come and go, but for the precious few you should hold on. Work hard to bridge the gaps in geography in lifestyle because the older you get, the more you need the people you knew when you were young.

Live in New York City once, but leave before it makes you hard; live in Northern California once, but leave before it makes you soft.

Travel.

Accept certain inalienable truths, prices will rise, politicians will philander, you too will get old, and when you do you’ll fantasize that when you were young prices were reasonable, politicians were noble and children respected their elders.

Respect your elders.

Don’t expect anyone else to support you. Maybe you have a trust fund, maybe you'll have a wealthy spouse; but you never know when either one might run out.

Don’t mess too much with your hair, or by the time you're 40, it will look 85.

Be careful whose advice you buy, but, be patient with those who supply it. Advice is a form of nostalgia, dispensing it is a way of fishing the past from the disposal, wiping it off, painting over the ugly parts and recycling it for more than it’s worth."

But trust me on the sunscreen.

Escrito por Mary Schmich

PS: No YouTube, está aqui.

Thursday, November 30, 2006

aquele que queria mais

Há 71 anos o mundo ficou mais pobre.
Perdemos alguém que conseguia mostrar a sua dor, sem escrever sofrer.
Conseguia falar de si, sem dizer eu. Conseguia escrever enigmas de tamanha beleza, que ainda hoje os contemplamos e passamos horas de volta deles, buscando uma solucção, tentando encontrar uma resposta, admirando a sua harmonia.
Há 71 anos o mundo perdeu um pouco da sua subtileza, as coisas tornaram-se mais lineares, mais óbvias, menos divertidas.
Ainda hoje comemoramos a sua vida, através das suas belas palavras, que nos conseguem partir o coração, ou levar-nos aos píncaros da alma, ou fazer-nos ponderar.

Há uns que têm a sorte de ter um pouco de poeta, depois há Pessoa. O génio. Inimitável.


"Depus a máscara e vi-me ao espelho. —
Era a criança de há quantos anos.
Não tinha mudado nada...
É essa a vantagem de saber tirar a máscara.
É-se sempre a criança,
O passado que foi
A criança.
Depus a máscara, e tornei a pô-la.
Assim é melhor,
Assim sem a máscara.
E volto à personalidade como a um términus de linha. "


Álvaro de Campos

Monday, November 27, 2006

natal em flor

Já há aquele sentimento de que é Natal e não é pela disputa acesa sobre o referendo do aborto, nem pelos políticos que lançam os seus livros, numa tentativa de comprar mais uma casinha no Algarve ou numa zona protegida, preferencialmente, que tenha ardido recentemente.
Na televisão vemos os inúmeros anúncios para os mais pequenos: as barbie's e as tralhas da Floribella para as miúdas e os Action Men e os Pokémon (ou o que quer que seja que agora está na moda) para o putos. Por outro lado, vemos ainda os brinquedos para os adultos, que prometem sucesso nas múltiplas facetas da vida.
O tempo também nos dá essa novidade, ultimamente de forma mais selvagem que antes, o que leva a que muitos nem pensem no Natal, mas sim no porquê de todos os anos haver cheias sempre nos mesmos sítios. Nos transportes também já se sente o espírito natalício; as pessoas andam mal-humoradas, pensam como gerir o dinheiro, como esticar o orçamento para dar ao filho, que protesta contra as aulas de substituição, aquela prenda de duzentos euros.
À porta das pastelarias cheira-se o Natal, porque nem todos o podem provar. Por detrás do balcão está um senhor gordinho, que, de alguma forma se assemelha ao Pai Natal. Quem sabe se pela cara de parvo e pelas gordas bochechas rosadas.
Na rua também os sem-abrigo e todos os menos afortunados cheiram e sentem o Natal que passa, mas que nunca chega.

Mas, como em tudo, também há o lado bom do Natal. Parece que nesta altura do ano estamos mais abertos a ajudar, se calhar porque notamos que somos, todos os dias, bafejados pela felicidade. Talvez sejamos, como diz Zé Miguel, "crápulas que têm a sorte de poder ter a vida que têm gozando ainda do previlégio de dela se poder queixar" e notemos que podemos ser úteis e deixemos de olhar só para o nosso umbigo, só durante meia dúzia de dias. Ou porventura esta é a altura do ano em que a vozinha da consciência grita mais alto, porque observamos os contrastes, que estão mais acentuados que nunca.
Por isso, faço minhas as palavras de Possidónio Cachapa, "...Bem-aventurados: (...) os que se voluntarizam todo o ano para encontrar roupas, comidas e palavras de reconforto e levam tudo isso aos vãos de escada húmidos, tresandando a urina; (...) os que irão morrer por estarem algures no mundo a dar vacinas e a meter colheres de alimentos na boca de crianças com a face coberta de moscas, enquanto à sua volta, famintos desconfiados discorrem sobre o que fará este estrangeiro no meio deles e se será muito difícil estrangulá-los e fugir com o seu relógios que parece valioso. Bem-aventurados os que amam... Porque deles, deveria ser o Reino da Terra...".

Tuesday, November 14, 2006

ainda acreditas?

"Talvez não haja razão nenhuma e todo eu seja demência, ou urgência, não sei…
Talvez não sejas tu, nem seja eu, nem tenhamos nós que existir.
Talvez devesse simplesmente deixar fugir o momento, em que dentro de ti navego e sonho e acordo a rir.
Talvez tu não sejas mais do que tudo aquilo que a minha imaginação quis criar.
E não sejas bom nem mau, não sejas forte nem fraco, não tenhas por dentro tanto além daquilo que eu vejo por fora (e que, aqui entre nós, é pouco…).
Talvez a razão não me acompanhe nesta viagem e eu percorra a estrada apenas como um louco, sem pequenas questões nem grandes respostas.
E então, poderão perguntar-me:
- Mas afinal, porque gostas?
Talvez eu nesse instante possa responder que é justamente
esse não sei quê, que nasce não sei quando, vem não sei como e dói não sei porquê que me faz acreditar."

Luís Vaz de Camões

Saturday, October 28, 2006

Lixo

A partir de hoje, vou falar por mim. Vou deixar de ter receio de dizer o que acho, mesmo que isso possa estar (ou parecer) extraordinariamente incorrecto para os outros. Defender a minha opinião, aquilo em que acredito, ser honesto com os outros, mas acima de tudo para comigo.

Eu sei que digo muita coisa errada, porém, de tempos a tempos deparo-me com uma ideia peregrina e não consigo ser cínico e ficar calado. Às vezes, isso é bom, porque nos faz pensar onde erramos e o que podemos alterar.
Por falar em coisas erradas, hoje vi as notícias. Acho que somos o único país onde os criminosos são gabados, os jovens delinquentes são defendidos sem terem razão nenhuma para se poderem queixar e os jovens alunos cospem e batem nos professores. Como se isso não fosse suficiente, somos, em todo o lado, bombardeados por informação, muita dela falsa, descontextualizada e cujo nexo é nulo. Não querendo ser mau para ninguém, mas a verdade é que as nossas televisões não passam de “questionadores ignorantes”, de um verdadeiro caixotinho de lixo, cujo diletantismo está patente em todas as suas vertentes e cujo propósito prático está longe de ser o esperado.
Sei que muitos não concordam com esta ideia. Não me interessa. Sou senhor de pensar o que quiser e de criticar (desde que fundamentado) qualquer coisa.

PS: Sim, porque afinal estou nessa idade!

Friday, October 20, 2006

vens ou ficas?

Em certas ocasiões, escolher é uma coisa tão fácil; dizer se preferimos o azul ou o verde, decidir entre carne ou peixe, ou ser ainda mais diferente e optar por ser vegetariano. No entanto, nenhuma destas escolhas nos perturba, não nos tira o sono, não nos cria aquele aperto no estômago, (ou, para os mais românticos, no coração) que nos faz sentir impotentes quando temos de fazer certas decisões que irão afectar a nossa passagem/passeio/deambulação, por este lugar que chamamos Terra.
As questões difíceis são aquelas que surgem do meio do nada, quando não temos problemas à vista, quando está tudo óptimo e que, quando aparecem, são lixadas. É aquela pergunta que nunca tivemos coragem de responder, que subconscientemente fomos esquecendo e que, na verdade, nos dava muito jeito que continuasse sem resposta. Porque sabemos que temos de dizer alguma coisa. Porque estas respostas são capazes de deitar muros a baixo, destruir fortalezas, conquistar multidões.
Não estou a dizer que as coisas estão erradas, que fugir é uma má solução. Porque no fundo é uma solução. Simplesmente não "a solução".

E no fim, olhamos para caminho percorrido e aí sobra-nos o silêncio e o saudosismo.
Por isso, podemos ir para onde quisermos, só temos mesmo é de escolher.

Sunday, October 15, 2006

baloiça enquanto podes...

Para onde é que corremos?
E já agora, porque fazemos da vida uma corrida, se ninguém quer chegar ao fim em primeiro? Quer dizer, eu não quero chegar ao fim em primeiro, porventura haverá aqueles que a querem terminar o mais depressa possível e os outros querem simplesmente fazê-la, sem propósito definido, sem percurso ou objectivos.
Mas quem sou eu para dizer isto? Se calhar estou a alucinar. A vida não é uma corrida; é mais um passeio ou uma viagem de comboio, ou pelo menos deve ser assim encarada. De forma calma, observar a paisagem e a maneira como esta se transforma com o passar do tempo. Contemplar os baloiços que outrora foram nossos e que baloiçavam de tal maneira que pensávamos que poderíamos tocar no céu, se balançássemos só com um pouco mais de força. Olhar para trás e notar quão ingénuos eramos, que nunca pensámos em como seria o futuro, pelo menos em termos realistas.

Mas o que sabe um puto de tudo isto?

Sunday, October 08, 2006

Conversas


Coisas pequeninas. Um sorriso. Uma palavra de conforto. Um acto inconsciente que naquele momento até arrancou algumas gargalhadas. Uma piada que não tem nada a ver mas que cai tão bem.
Coisas simples da vida. Estar com quem nos faz rir, mesmo que seja de nós próprios. Partilhar um copo com quem nos serve com um sorriso na cara. Dançar sem se importar, só mesmo por dançar. Ver o mundo e aceitá-lo como é. Dizer que somos felizes e que temos sorte, porque vivemos aqui e que afinal isso não é assim tão mau, que podia ser pior. Sentar-se, olhar para o céu e sorrir, porque depois de tudo o que se passou ainda estamos aqui.
E depois de tudo isto perceber que são essas as coisas, que classificamos de pequenas, simples, comuns, que nos fazem viver e acreditar. Que nos fazem sonhar.


"And all I wanted was the simple things, a simple kind of life "
No Doubt, Simple Kind Of Life

Friday, October 06, 2006

Porque de Sophia de Mello Breyner Andresen

"Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não."


...e acrescento eu:

Porque hoje quis escrever,
Mas o sol não brilhou.
Porque hoje quis saltar,
Mas alguém me acorrentou.

Porque hoje quis ser encontrado,
Mas nunca ninguém me procurou.
Porque hoje quis sorrir,
Mas algo... tudo mudou...

Saturday, September 30, 2006

Deitar as coisas fora... talvez mudar

Talvez despejar os maus hábitos, aquela postura postiça ou a atitude positivista que, na verdade, não leva a lado nenhum. Sei que a reciclagem está muito em voga, hoje em dia, mas há coisas que têm de ir para o lixo.
É tão fácil deitar uma coisa fora, mas quando nos toca a nós parece sempre demasiado difcil. Quanto mais tempo passa, menor é a nossa capacidade para abdicar de coisas que tínhamos por certas. Esta é possivelmente a minha maior falha: a minha incapacidade de mudar.
No entanto, apercebi-me que não sou o único. Ficar parado, enquanto tudo à nossa volta muda (ou aparenta mudar), é estranhamente confortável, porque pelo menos a sensação é familiar.

Porque se tentarmos mudar, se fizermos algo que ninguém está à espera, dermos o passo em falso, quem sabe o que pode acontecer? Será que temos mais medo do mal desconhecido, em oposição daqueles que podem ser piores, mas que já conhecemos? Por isso, maior parte das vezes, afastamo-nos do caminho insondado e percorremos a estrada mais sinuosa mas já explorada. E não acontece nada que seja estranho e não parece assim tão mau. Afinal não estamos a fazer mal a ninguém... talvez a nós, um pouco.

Mas há uma altura em que mudamos, e quando isso acontece não é como nos filmes, não passamos a ser uma personna totalmente distinta, nem acontece dum momento para o outro. São as coisas pequeninas, aquelas em que ninguém repara, a não sermos nós. Mas nós notamos que algo aconteceu e isso faz toda a diferença.

Thursday, September 21, 2006

"So Long Sweet Summer"

É tempo de dizer adeus, mesmo que por meses, ao Verão.
É tempo de dizer adeus aos fins de semana na praia, ao "calor que mata" (como dizia há dias uma repórter), às noites agradáveis, com aquele bafo quente e aconchegante. Despedimo-nos dos amores de verão, daquela rapariga bem bonita, que se passeava na piscina, de biquini, como se todo o mundo a estivesse a observar.

Por outro lado, este é o início das preocupações, dos estudos, o regresso ao stress habitual. É também recomeçar as aulas, em sítios novos ou no sítio do costume.
A vida regressa ao seu compasso normal. As ruas voltam a estar repletas de formiguinhas, que se deslocam, para o trabalho. O trânsito volta a entupir todas as artérias da cidade, como colesterol no corpo humano. Os assaltos, violações e mortes voltam ao seu ritmo comum. E as televisões (esses Lordes da informação), voltam a encher o seu horário com as histórias do costume, como a maior abóbora do mundo ou quem consegue atirar o seu telemóvel (neste caso tijolo) mais longe. Há ainda algumas estações que preferem dar-nos histórias de pseudo misericórdia, que já cansaram toda a gente.

E é assim que tudo recomeça, neste país que esteve encerrado para férias.

Saturday, September 09, 2006

Quero nunca ter de dizer adeus...

Não consegui encontrar as palavras. A realidade continuou e eu fiquei parado à espera de ti, da tua acção.
Não sei como dizer adeus, perdi-me nas emoções e recordações que trazes, tornando este momento ainda mais implacável.
Não consigo acreditar que chegou ao fim, não fui capaz de adiar o inevitável, de trancar a porta do tempo, de fugir da verdade que é ter de te dizer adeus.
Não sei como dizer, mas tento. Porque sei que quero dizer mais, mas não consigo. As palavras são poucas e o seu significado é menor do que aquilo que, na verdade, quero dizer.
Não consigo encontrar a palavra certa, a expressão exacta que defina o que está a acontecer. Não consegui dizer que te acho bem bonita. Que gosto de ti, que sempre gostei.

Não sei como dizer nunca mais. Porque é difícil compreender o que é real, quando tudo parece errado. Porque sinto que nos voltaremos a encontrar, que os nossos caminhos estão entrelaçados.
Não gosto de despedidas. Dizer adeus é uma arte que deveria ser ensinada nas escolas; para estas situações, por exemplo. Mas também não tenho de dizer adeus, pois não? Creio que um até logo também serve... Mas mesmo assim, não sei como o hei-de dizer, por isso, aqui estou, a escrever... para não ter que te dizer adeus... nunca.

"Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti"

Alexandre O'Neil, Um Adeus Português



Friday, September 08, 2006

Retratos

Cada um pinta a sua imagem como quer. Como disse P.C.: "Toda a gente é feita de materiais diversos. Uns mais luminosos, outros escuros, uns doces, outros cheios de arestas... E há ainda pessoas que são tudo isso, mas ainda assim não encaixam nessa categoria."
Eu não me consigo definir. Não por ser demasiado bom ou demasiado mau, não é falta ou não de modéstia, nem uma falsa modéstia. Não se trata disso! É apenas a incapacidade de explicar a minha essência. Podia dizer-se que o meu retrato é demasiado nublado para descrever. Pinceladas, aparentemente, lançadas ao acaso.
Neste endereço sou assim. Algo incerto, muito vago, um mistério. No entanto, quando saio deste endereço, sou uma pessoa diferente daquela que aqui escreve. Mais pacífico, mais moderado, mais adaptado ao meio pelo qual passeio. Usando uma máscara social, que ninguém admite que usa, mas que toda a gente ostenta. Neste espaço de liberdade escrevo o que quero, digo o que acho que devo dizer, penso alto com o mundo. Aqui "deitei fora a máscara e dormi no vestiário como um cão tolerado pela gerência". Aqui sou eu, sem medos ou interesses. Só eu.
E tu, quem és?

Monday, August 28, 2006

Not for sale

Mudámos. Não, isto está errado. Alguns mudaram, outros ficaram na mesma.
Uns debatem-se com a dura incerteza da realidade, enquanto outros ficaram no seu mundo de cristal, onde tudo é perfeito, onde em troca de tudo o que são podem ter tudo o que querem, onde as pessoas são felizes mas falsas. É a vida das revistas cor-de-rosa, do "olha para mim, estou aqui!", das festas organizadas pelos pretensos VIP. Alguns olham para elas com esperanças de, certo dia, serem os nomes deles a figurar numa página duma qualquer revista de crónica social. Outros ainda, riem-se dos seus títulos pseudo escandalosos e de notícias cuja existência, em si, é u
ma anedota.
Estas revistas criam e vendem um estilo de vida, uma fantasia, a pessoas que estão tão empenhadas em sonhar com algo melhor, que, por vezes, esquecem-se de pensar no que tiveram de fazer aqueles (outrora) zé-ninguéns para serem capa de revista.
Sim, a realidade é dura, ninguém tem dúvidas disso, nada se compara à ficção. Possivelmente é por isso que escrevo isto, para me abstrair de tudo. Por isso, talvez isto seja só um sonho, quiçá eu nunca tenha
escrito isto, mas, pelo menos, sei que não me vendi.



"Hollywood is a place where they'll pay you 50,000 dollars for a kiss and 50 cents for your soul."

by Marilyn Monroe

Saturday, August 26, 2006

Só porque é Verão

"Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar."

Miguel Esteves Cardoso in Expresso


Ps: Quem me dera escrever assim...

Friday, August 18, 2006

Horas mortas

Sabem quando chegam a casa àquela hora entre as 5 e as 7 da manhã e vocês estão cheios de vitalidade porque conheceram uma rapariga engraçada ou porque, pura e simplesmente, a dose de cafeína foi demasiado elevada? Exactamente, as horas das televendas. Aquela coisa fantástica que antecede o Goucha e a Fátima, que eu tanto adoro! Bem, numa dessas intermináveis insónias deparei-me com isto. Quando todos achávamos que nada podia piorar a ideia do americano morbidamente obeso, aparece o Table Mate! Cuidado que isto vai fazer furor em Portugal! Até já estou a imaginar a Dona Alzira a telefonar para a roda da sorte, enquanto está a tomar o seu chá para o fígado e o seu pão(zinho) integral com um bocadinho de Becel (“que essa não faz mal ao coração…”), na sua Table Mate para não se cansar muito. Mas que alegria ver os velhinhos contentes!
Entretanto, nos E.U.A., as criancinhas vão conseguir ganhar peso ainda com mais facilidade, os pais já não vão caber nos sofás e toda a gente vai ser feliz!
Falando um pouco mais a sério, acredito que seja (de alguma maneira) prático e confortável (dentro do possível), mas é o mesmo que pôr um bêbado a fazer um anúncio a uma bebida. É óbvio que ele gosta, até podia ser diluente que ele bebia na mesma e dizia que tinha gostado.
Isto tudo para dizer que já gastei tempo e espaço.

Abraços

Wednesday, August 16, 2006

Lisbon (Re) Revisited

Parece que rebentou uma bomba na cidade e os únicos sobreviventes são os velhotes e os turistas. Lisboa está deserta. O que mais me espanta é que não consigo descobrir um (único) portuguesinho/a que ande a visitar a cidade, a conhecer um pouco melhor a sua história, o porquê de aquele lugar estranho ter determinado nome. Não interessa, não é? Pensamos que temos sempre tempo e deixamos para último o que nos é mais próximo.
O português (o típico, claro!) prefere passar um dia na praia da Costa da Caparica. Sim, essa praia com um vento que parece a irmã mais velha do Katrina, com uma água adequada para pinguins e com tão poucas pessoas, tão desconhecida que é preciso andar à pancada para arranjar um lugar só para pôr o chapéu (sim, porque para estender a toalha é preciso trazer uma arma e, se possível, o rottweiler). Por amor da entidade em que acreditam, se é que acreditam em alguma, façam alguma coisa sem ser trabalhar para o bronze.
Se ficam em Lisboa, aproveitem, visitem a cidade. Deixem o carro em casa, porque afinal o País está em crise, o fumo faz mal ao ambiente e a viatura também precisa dumas férias. Entretanto, conheçam a cidade, visitem os museus, o Castelo de S. Jorge (grátis para os residentes na cidade de Lisboa) ou façam um passeio pela parte velha da cidade. Qualquer coisa. Mas, como diz alguém que conheço, cultivem-se, minha gente!
Abraços



"Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida...
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui... "

Lisbon Revisited, Fernando Pessoa

Friday, August 04, 2006

Os corpos quentes e suados passeiam-se nesta movimentada avenida. Tanto de dia como de noite a quantidade de roupa é mínima. Sente-se bater vibrante do mar. A areia que se enterra suavemente debaixo dos pés. O sol, fonte de vida, torna-se mais que isso, é a desculpa para se tirar a roupa, para se mostrar o que não se mostraria em nenhum outro momento, para fugir do quotidiano e mergulhar numa vida stress free. Sentimento de verão, liberdade total.
As estrangeiras pavoneiam-se. Roupa reduzida ao indispensável, ou seja, mini saia e um top arrojado, se possível transparente. Fio dental opcional. O turismo sexual abunda nesta altura do ano, desde o conhecidíssimo Zézé aos betinhos que desfilam, com os seus sapatos de marca e esperança vã de dar uma trancada a uma bifa. Ridículo. Por aqui a vida é assim: superficial, ordinária. E assim, enquanto observo uma menina bem bonita, despeço-me.


"A nossa juventude é uma desgraca! Só tenho pena de eu andar sozinho neste jogo do engate aqui no Algarve! A juventude hoje em dia só pensa em drogas e em futebol! Tenho pena de não deixar nenhum sucessor!" by Zézé Camarinha

Monday, July 31, 2006

Para sempre?!

Há dias atrás fui abalado pela expressão para sempre. Sim, aquela que aparece nos livros da Cinderela, Branca de Neve, Rapunzel. A fantasia com que todas as rapariguinhas sonham. Encontrar o tal, ter uma ninhada de putos e viver feliz para sempre (outra vez a malfadada expressão...). Ora eu pus-me a pensar, essas histórias que acabam todas com o "...e viveram felizes para sempre", mas não dizem que viveram juntos e felizes para sempre. Agora se aplicarmos isto à sociedade as meninas são todas umas grandes princesas à procura do seu príncipe encantado.É verdade, queixam-se porque eles tem pelos ali, porque deixam o tampo da sanita levantado, porque se importam demasiado com o futebol... Agora imaginem lá os cenários das estórias:
Rapunzel,depois de ter sido salva das garras do dragão mau, teve uma bela lua de mel e os primeiros meses de casamento foram muito bons. Mas deixou de ser a prioridade número 1 do príncipe que tinha de gerir o reino. Aos poucos, este começou a ficar farto dos seus Pára de brincar aos cavaleiros! ou os Deixaste a porta da masmorra aberta! Achas bem?! e, até mesmo, as constantes Ai! Agora não, dói-me a cabeça... que aumentaram após o primeiro miúdo. Rapunzel cortou mesmo o seu belo cabelo longo que o príncipe adorava e lhe havia pedido para não cortar, pois dizia que tinha as pontas incrivelmente espigadas. A sua vida de sonho estava a complicar-se. Além disso, os hábitos do príncipe nao ajudavam. Tinha engordado e ganhado um casaco de pelos, hábitos aos quais se adicionava a habitual escapadinha que acabava sempre por chegar aos ouvidos da princesa.
Enfim, num belo dia em que o céu até tinha feito uma nuvem em forma de cavalinho, Rapunzel levantou-se para descobrir que o seu príncipe encantado tinha fugido. Embora triste, atirou-se para os braços do rapaz das cavalariças que a apoiou nos piores momentos. Passados poucos anos casou-se com o rapaz das cavalariças e, assim, viveu feliz para sempre.
O Fim?

Saturday, July 29, 2006

Please come in

Porquê começar? Na verdade, não sei. Talvez para ter um sítio para atirar um pensamento mais artístico, umas palavras bonitas, uma frase engraçada. Ter um livro de capa preta sem o ter. Mandar umas ideias para o ar. Acima de tudo falar. Falar para mim e, ao mesmo tempo, para o mundo.
Pode ser que alguém tropece aqui e goste. Logo veremos...