Monday, December 18, 2006

just give a little bit

Porque não devia ser assim. Esta época, devia ser um tempo de entrega, dar um pouco de nós àqueles que mais necessitam de apoio nesta altura do ano, perdoem-me o cliché. Tempo de alegria para todos. Não por ser Natal, mas por as ruas de Lisboa e, porventura, do resto do país serem abrigos frágeis a este tempo gelado que vagueia por Portugal. Foi com este pensamento que decidi participar no Natal dos Sem-Abrigo, na cantina da cidade universitária, nos dias 15, 16, 17 e 18.
Não posso dizer que tenha sido algo surreal ou fantástico, como nas histórias, porque as pessoas com quem falei são de carne e osso, do mais real que há.
Por outro lado, posso dizer que é uma experiência compensadora. Principalmente quando ouvimos, já no final do último dia, uma idosa a desejar-nos que tenhamos "um terço daquilo que demos, porque já é muito!" ou uma menina de 7 anos a desejar-nos um bom natal, enquanto sai do recinto, abraçada a uma boneca que lá lhe deram. Se houvesse algo de mágico nesta experiência seria este sentimento, de tal forma poderoso que fez com que as dores desaparecem e o desânimo se transformasse em alegria.
É, no mínimo, tocante ver como por algo que muitos de nós consideramos banal, como uma t-shirt ou uma camisola, as pessoas se emocionam. Como nos tocam com um olhar, como mudam a nossa maneira de pensar. Como modificam a nossa forma de olhar para as coisas, a maneira como interpretamos esta quadra.
Não posso esquecer as coisas menos boas, porque as houve, como há sempre. Prova disso foi a singular presença de Lili Caneças, que ocupou o recinto durante duas horas, impedindo os voluntários de continuarem o seu trabalho normalmente. Tudo isto para a TVI a filmar a entregar quatro (sim, 4) mantas, com o bónus de ter necessitado de mais de três takes para gravar esse curto momento de tamanha generosidade. É de muito baixo nível (mesmo muito) usar o slogan da solidariedade para promover a sua própria imagem. Isto até poderia ser chocante, não fosse Portugal um país com um suposto jet set que faz comentários como este: "Os sem-abrigo deviam assumir a sua condição" (Paula Bobone).
Deixo um obrigado especial às pessoas que conheci e reencontrei, aqueles que participaram, pois são eles que fazem do NSA (Natal dos Sem-Abrigo) aquilo que ele é. Um espaço de solidariedade e alegria, num mundo cada vez mais virado para o eu.

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