Tuesday, October 30, 2007

preto & branco


(...) E enquanto penso isso, olho para as duas faixas de alcatrão que se estendem a meu lado, timbradas com setas e linhas, que muitos seguem para ir para qualquer lado, acabando sempre em sítio nenhum. No meio do meu sonho decadente, vejo uma zebra correndo por cima duma passadeira. Por momentos fundem-se e separam-se. E novamente se fundem e novamente se separam.

As setas apontam-me o caminho. Para casa, espero. Se não for para casa, então que me mostrem que há mais no mundo que alcatrão e setas e linhas. Que nem tudo é preto e branco.

Friday, October 05, 2007

Ip

"Love. We all want it. Don't all get it. I remember telling my mother in high school I wanted to wait for the perfect girl. And she replied, "Idiot! Even if you found her, she might be holding out for the perfect man." She also said I wouldn't recognize love unless it bonked me on the head. And I retorted, "Well, why don't you come along with me, mom, and if you see love, you hit me on the head so I'll know." It was difficult as a young man taking my mother on dates. And then, one night, not a date night, but just one evening, I turned to my mom and, as i looked into her eyes, I could see... she was dead. She'd passed on quietly from an aneurysm, right there at the table. All she said was, "Ip." Sitting in a chair: a quiet little "Ip". It was her request to have her last words put on her tombstone. And I see people at the cemetery snickering when they read: "Joanna Cage. Beloved Mother. Ip." I miss my mother. Even though she's not here... I know she's still with me, smiling down on me... hoping I'll find love."


by John Cage in "Ally Mcbeal"

Monday, September 17, 2007

a minha senhora da solidão

"Queres parar?"
Merda para isso. Também não ias dizer que sim, gosto disso. Agora parece tão simples, fácil até.

Ainda te lembras de ontem? Eras diferente e inquieta e frágil. "Há pessoas que nasceram para estar sozinhas e isso não é necessariamente mau, sabes disso?", perguntaste. Lembro-me disso como se tudo se estivesse a passar agora, à frente dos meus olhos. Não consegui responder logo. Nem pensei, mas vincou-se a ideia de que estavas a dizer adeus. Olhei-te nos olhos, que já conheço tão bem, e aí sorriste e disseste "mas não tem de ser assim...". E eu pensei "como me conheces bem". Sempre pensei demais e nunca cheguei a uma conclusão sobre o que me querias dizer. Sorrimos, perdidos naquele instante. Um deserto sem fim. Podia ter acabado este mundo e começado um novo que não nos teríamos mexido. O encontro era natural e, como tudo o que assim é, acabou por acontecer.

(...)O sol nascia por entre as árvores antes escuras, sombrias e tristes.
"E agora, vamos para casa? Queres parar?", perguntei.
E tu tinhas a resposta perfeita, "Enquanto houver estrada para andar a gente vai continuar".

...

Ando a ter uns sonhos estranhos, é o que me dizem.

Friday, September 14, 2007

é agora?

A felicidade de que depende? Num espectro mais alargado, o nosso futuro, a nossa vida, o que a pode mudar?
Não é uma questão de sorte. Nem de prudência, sensatez, paz ou equilíbrio. Não se trata sequer de fama.

A meu ver, tudo depende do timming correcto. Agir de forma certa, no momento exacto, deve ser extremamente difícil. Pelo menos é o que se me sugere, visto que esta não é uma qualidade que abunda na minha pessoa.

Quantas vezes deixamos escapar a oportunidade perfeita devido à ausência desta característica? E mesmo aqueles têm este estupendo atributo, quantas vezes se enganaram? Porque, para consolidar a inconstância da vida, nem sempre aquele sentimento é acertado, nem sempre as nossas decisões e palpites acertam no ponto esperado. E todos sabemos quanto custa essa desilusão.

“E eu, que não sou menos filho das divindades”, como diz PC, gostava de compreender como se alcança tamanho talento. Será uma questão de feeling? E se for, como descobrimos o verdadeiro e como nunca o perder? Não sei… talvez não passe tudo duma questão de genes ou até um problema glandular… infelizmente para mim, deve ser tarde de mais para mudar.

Por hoje, por agora, vou parar de pensar nisso e aproveitar os últimos dias de calor aconchegante. Abandono a pergunta sobre a passagem do meu timming perfeito, pois se já o perdi, então nada posso fazer…


Ou posso?...

Sunday, September 09, 2007

sim, porque se fosse simples perdia a piada...

"(...) O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não.
Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."

Depois disto a única palavra que me vem à cabeça é mesmo esmerding...

Thursday, August 09, 2007

Aluga-se este espaço

O tempo tem rareado e a insipidez mental abunda pelos cantos desta cabeça.
É só uma maneira simpática de dizer que tou vivo e isto não morreu. Quando as coisas mudarem, voltarei. Ou seja, no dia em que o vento deixar o espaço entre as minhas orelhas e voltar a rastejar para lá a minha massa cinzenta (por favor, se alguém a viu é favor informar o proprietário), aparecerá algo, qualquer coisa. Decente, espero.
Entretanto, e para gáudio de muitos, isto é como outra qualquer construção lisboeta embargada: ninguém sabe porquê, nem durante quanto tempo estará assim.



Friday, July 06, 2007

regresso ao passado

Perguntam-me porque o faço, porque trabalho por tão pouco, porque abdico de noitadas e copos e cafés e cinema, porque me afasto dos amigos que me custam tanto manter e com quem gosto de dizer porcarias e ter conversas psedo filosóficas ou de, pura e simplesmente, ter tempo para relaxar.
A resposta era sempre algo nublada, distorcida mesmo, não posso, porém, deixar de dizer que havia um gosto que superava a quantia monetária que me esperava. Pensava também que o fazia porque era diferente, inovador, que fazia de mim uma melhor pessoa. Mas olhando para trás consigo entender o que a solução era muito mais simples. Ontem desvendei-a ou se calhar já a sabia mas só ontem se mostrou de forma clara. O que me faz abdicar, o que me leva a fazer o que poucos querem fazer. Por fim, descobri. A resposta era mais simples do que parecia, só que eu tinha o sol na cabeça e os pés cheios de areia e não a conseguia vislumbrar.
É o tornar-me um deles, ter outra vez doze, treze, catorze anos. É voltar a ter um riso solto, livre, mas acima de tudo, é voltar a ser inocente. Pensar que as minhas decisões mais complicadas são a escolha entre futebol e deveres. Ou que o meu maior medo é a voz esganiçada da professora que berra comigo por tudo e por nada. E agora, pelo menos por uma semana, não olho para trás, mas revejo-me neles. Sinto-me mais vivo e o riso soltou-se outra vez, duma maneira que alguns chamariam infantil. Isto dá-me mais anos de vida, fico feliz e consigo recordar que há não tanto tempo atrás fui como eles: totalmente feliz, por mais do que pequenos segundos. É adorar sem receios. É não ter medo de gostar de alguém. É não se inquietar sobre o futuro, perspectivar felicidade desmesurada. Alguns conseguem ser ainda melhores. Preocupam-se sem ter interesse, ajudam por saber que isso é correcto e dão uma mão ou um ombro a quem necessita.
Isto tudo para dizer que gostei e gosto muito de vocês. Obrigado putos!!

Sunday, May 20, 2007

a preze

Porque esta é só mais uma história de alguém que queria voar, mas que nunca aprendeu como. Por isso escondi as asas, por baixo de folhas de preconceito e de desprezo. Montei a fachada. Acabou por se colar à cara, sem nunca mais a ter conseguído tirar. Tu olhas e dizes "é triste...". Não discordo.
Normalmente é assim quando se toma consciência ou quando acaba a inconsciência duma certa idade da vida. Já me disseram que sou uma alma velha. Não posso deixar de afirmar que estavas errado. Sou um puto, não passo disso. Chateio-me. Embirro. Amuo. Faço trinta por uma linha para conseguir atingir aquilo a que me proponho.
Às vezes, nos dias menos maus, sinto o sol. Bate-me na carapaça que criei para me defender do que dizem e do que é. Afastei-me totalmente do real. Faço filmes de cabeça. Crio lendas e mitos. E não sou aquele que cria ser. Nem aquele que desejava, mas isso tornou-se banal. Abandonar o ringue mesmo antes de lutar. As luvas, essas, ainda as tenho nas mãos. Já se mexem sozinhas, prevendo o próximo golpe e encontrando adversário seguinte. Eu.
Por mim, acabou, não quero mais nada. Mas não hesito em deixar-te uma só pergunta: se tivesses uma oportunidade para mudar uma coisa e uma apenas, o que farias?

Monday, March 19, 2007

No meu país (parte 1)

"Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura..."


Parti daqui. O resto não interessa e o que pensei até poderá soar bem agora, mas será contrariado, serei desmentido, serei chamado de louco, por aquele que no farão do futuro algo mais brilhante. Algo que neste momento (me) parece impossível.
Ainda sou forçado a acreditar que não passamos de homens com fogo, que não sabem o que fazer com esse fantástico elemento. Existe por aí talento, pode estar oculto ou não ser reconhecido mas existe. Mas mesmo assim, não sabemos o que fazer com ele. Normalmente, aqueles que possuem algum talento, são castigados, que nem Prometeu que ousou roubar o fogo sagrado.

Se pensarmos bem, quantos houve que passaram pela vida e viram ser-lhes concedida a graça do reconhecimento? Neste país à beira mar plantado, podíamos contá-los pelos dedos das mãos. Talvez bastasse uma mão. Temos falta de vontade e medo do que é novo e desafia as convenções estabelecidas, pelo menos foi esta a conclusão a que cheguei.

Apesar disso, acredito em nós. Acho que não pode piorar muito mais e creio que certo dia nos ergueremos das cinzas, como uma Fénix que apenas precisa de tempo para renascer.
E por isto, acredito que há salvação, pois como disse um português, cujas obras só foram aceites e compreendidas (achamos nós...) depois de morto:

"Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe porque ama, nem sabe o que é amar...


Tuesday, February 20, 2007

Once and again

"Não é por estar com a neura, nem é porque hoje me deu uma coisinha má. Não é porque a música toca e eu finjo que ouço. É agora porque me apetece, assim, sem mais nem menos.
Por isso, afasto-me, ou pelo menos tento, das realidades pré-fabricadas. Se for preciso mando pró ar um palavrão mal parido, sem explicação nenhuma. Porque me apetece. E tu não és melhor, porque me mandas calar, ou porque lês este texto com desprezo, mesmo sem saberes do que fala, mesmo sem pensares. Depois disto, ainda te achas muito melhor que os outros? Se calhar, também tentas desvendar um livro pela capa. Fá-lo? Pois... então és tão bom como aqueles que criticas e não fazes muito por mudar. Se calhar, eu que escrevo sou tão hipócrita como tu, só que passo despercebido porque sei que se deixar de tentar fazer melhor, o mais provável é regredir novamente.

Se errar, errei. Problema meu. Erro meu. Aprendizagem minha, e se fores suficientemente inteligente, talvez também a possas usar. Mas isso é só se chegares aqui, porque a esta altura já deves ter achado que o teu tempo é demasiado valioso para estes míseros bits, que se calhar até é, quem sabe? Podias estar a contribuir para o PIB, mas em vez disso continuas a ler este texto de merda. Então o que é que continuas aqui a fazer?
Como já tão inteligentemente descobriste não sou perfeito, nem preciso de ser, nem o que faço tem de o ser, mas a meu ver isso vale tanto como a tua opinião: nada. Até podia fazer tudo mal e ser o maior palhaço a por pé neste planeta, mas isso, bem como a tua opinião, não interessa. Acho que é tudo. Já está."
Fim de cena.