Friday, August 20, 2010

P.S.:

Por vezes penso que me enganei na vida que escolhi, depois olho à minha volta e vejo que a minha razão de viver ainda está lá. Sempre a sorrir para mim.

Saturday, July 03, 2010

Mapa

Soltaste a mão e eu esqueci me de olhar para trás para ver se me seguias. Foi, assim, que acabei aqui.

Friday, April 23, 2010

continuo a ser a mesma criança mimada

Quero voltar a aproveitar um pôr do sol laranja. Pisar a areia húmida e pensar noutra coisa que não o trânsito, as notícias e as gotas de chuva que batem na minha janela. E os livros e os trabalhos.

E quero tanta coisa... mas o que eu queria mesmo era ver as coisas novamente pela primeira vez. Experimentar o medo e o espanto. Apagar o quadro e reescrever a história. Quem me dera ter amnésia...





Não haverá, por acaso, aí alguém que me queira bater com um taco para ver se resulta?

Sunday, April 11, 2010

one frozen second that could change the world

Por vezes nem sabemos o que nos espera. Outras sabemos e mesmo assim conseguimos espantar-nos com o resultado. E é normal, pois por muito que queiramos dizer que controlamos a nossa vida rendemo-nos, várias vezes, à evidência que não somos apenas nós quem define o nosso rumo. Apesar de precisarmos de acreditar que sim.
Por isso, abandonamos as ideias de fragilidade e fado. Forçamo-nos a ver que em todos os momentos poderíamos ter optado por uma escolha diferente, alterando o resultado e, consequentemente, o nosso trajecto.

Quando chegamos a este ponto começamos a notar quais os momentos-chave e efectuamos a nossa "mortificação psicológica". Por outras palavras, escolhemos um instante fulcral, paramo-lo no tempo e repetimo-lo vezes sem conta, imaginando os milhões de respostas que podíamos (e gostaríamos de) ter dado, que podiam ter mudado o curso da nossa história.
Os que gostam de se auto-flagelar, guardam essas memórias por anos, deixando que esse segundo se espraie infinitamente, enquanto a vista se lhes tolda, o cansaço toma conta do corpo e as recordações os deixam velhos e gastos. Outros relembram esse momento com carinho e serenidade. Revisitam tudo o que antecedeu. Notam que cresceram com isso. E são capazes de olhar para o futuro e deixar o passado ser isso mesmo.

Eu, que sei que não consigo controlar o que se passa, deixo que esse segundo se cristalize no tempo. Agarro-o, contemplo-o e depois, tão depressa como passou, liberto-o. Solto-me dessa recordação e desse instante e consigo vislumbrar o futuro.

Hoje, que a cidade já dorme, penso novamente nas histórias que ela me podia contar e sei que uma delas tem de ser a minha. Um sorriso inesperado solta-se e eu vou à sua procura.

Monday, March 15, 2010

Sento-me e vejo o mundo correr à minha volta. Nada é meu, nada do que se passa me é familiar.
Já não consigo pensar nisso.

Lembro-me de ontem. Estava no centro de Lisboa, com os carros e o barulho, quando de repente a cidade se cala. Parecia o cenário de um filme western. Por um momento, consegui ouvir um pardal castanho, de bico curto e mordaz, a chilrear a sua cantoria, ouvi as águas que corriam nos canos, outrora novos e alegres, por baixo dos meus pés, escutei o estalar das pedras que se queixavam da passagem do tempo que levemente lhes retirava a forma e a alegria da cor e o vento com a sua melodia suave. E enquanto, pensava que até havia um certo traço de felicidade nesta serenidade inesperada, que eu sorvi tão bem, algo abalou este silêncio.
Tac... passam dois segundos e novamente tac... Tento descobrir o que fazia este barulho e, mais uma vez, tac.. Tudo calado e só este "tac" permanece. O pássaro voou, os canos calaram-se e as pedras endureceram. E eu, tentava descobrir que barulho afectava a minha serenidade.
Tac e, por final, descubro o que destruía a minha realidade, segundos antes feliz. Tudo se transforma em mágoa ao descobrir quem causava o ruído. Eu, estático, espantado, imóvel. Ele, idoso, cego, frágil. Nesse momento desabou o meu mundo. Sozinho e perdido neste espaço frio e cruel. Só eu, a minha ignorância e quem perturbava o meu silêncio.

E é, por isso, que me sinto uma besta...

Tuesday, March 02, 2010

bati com a cabeça e saiu isto

As pessoas ficam escandalizadas quando lêem mentiras no Correio da Manhã. Eu fico espantado quando elas são verdade.

Monday, March 01, 2010

sempre mais

"If you are, you breath.
If you breath, you talk.
If you talk, you ask.
If you ask, you think.
If you think, you search.
If you search, you experience.
If you experience, you learn.
If you learn, you grow.
If you grow, you wish.
If you wish, you find.
And if you find… you doubt.
If you doubt, you question.
If you question, you understand.
If you understand, you know.
And if you know, you want to know more.
And if you want to know more, you are… alive."


Live Curious, baï National Geographic. Vídeo aqui

"Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso."

Sunday, February 28, 2010

Livre

O dia que esperas que nunca chegue. O momento em que o coração se rasga e tu, a pouco e pouco, contorces-te e tentas parar a dor. Não consegues. Todos os momentos são errados, este mais que todos. Nada corre bem. O café sabe a merda. Está de chuva. Esqueceste-te do que precisavas. Pontapeias a secretária. Esmurras a parede. Sentes uma dor nova que atenua a anterior.
Apetece-te correr. Nunca parar. Envergas a cara de quem não quer saber o que o mundo pensa. Não queres mesmo. Libertas-te das grilhetas e do peso que te puxava para o fundo. Não pensas. Queres dizer tudo o que te vem à boca.
Intrépido, corres contra a chuva e contra maré. O vento corta-te as feições outrora jovens e a água contorna-te o corpo. Sentes-te mais leve, mas o cansaço já se apossou de ti.
Finalmente paras. Deitado na areia, pensas e queres ser um cão vadio. Consegues o que tanto ambicionas, ser aquele que sempre se quis soltar das correntes, mas que, até esse momento, nunca soube como.

Nesse momento, pegas num punhado de areia. Sentes as pedrinhas a brincarem com a tua palma enquanto lutam para sair e vê-las, quando saem, a voar com o vento. Encontras algo que tinhas perdido, a tua essência. Aí, soltas um sorriso e vês que tudo antes valeu a pena.

Saturday, February 27, 2010

is experiencing some technical difficulties

Tenho a cabeça cheia de frases e nenhuma se articula com a seguinte. Surge-me a imagem de estar a fazer um puzzle e querer encaixar peças, mas estas resistirem à minha vontade. Sou como um guarda-chuva onde propositadamente fizeram buracos e, por isso, já não sirvo para a minha função. Coloquem-me de lado, reformem-me.

Quero escrever uma história grandiosa, mas só me saem contos. Preciso de dizer algo, mas não sei bem o que poderá ser. Quero pintar o mundo e fazê-lo vibrar, mas perdi a paleta onde tinha todas as minhas cores.

Hoje sou o palhaço pintado a preto e branco. Hoje sou a máquina de escrever que ganha pó ao lado do portátil. Hoje sou o miúdo que antes fui e que se perguntava de que serviria isto tudo e se não seria apenas um exercício fútil.

Mas hei-de erguer-me. Porque cair é um exercício da gravidade e levantar-se uma resposta natural de quem batalha. Hoje vou fazer melhor, vou juntar as palavras e criar uma frase fantástica, bem talvez apenas decente, mas algo que prove que ainda sou útil, algo como:

Guardar fotografias? Guardem-nas na vossa imaginação, pois lá ficarão as recordações que vos são mais queridas. Além disso, nunca precisarão de explicar aos familiares porque não têm as deles.

Ainda não, não é...? Bem, talvez amanhã seja o dia, quem sabe...

Saturday, February 20, 2010

Fernando Pessoa era sábio e disse...

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Porque por vezes o que é preciso é caminhar sem direcção. Só para mudar de rumo.