Wednesday, March 13, 2013

Panteão

T.,
Acabamos agora a conversa. Deves estar ferrada. Só te queria uma coisa mas não te queria acordar. Daí ter escolhido este método. Além de simples, não incomoda ninguém pois ninguém o lê. E isto só para te dizer:  a nossa conversa deu-me um gozo imenso. Como não tinha há muito tempo. 

Trago comigo um receio, porém. O de que amanhã não queiras falar. Que o teu estado de espírito tenha mudado. Que algum ser diferente te habite o corpo. Ao invés deste: calmo, suave e atento. 

Nunca, desde o momento em que colocaste um ponto final, senti o frio tão próximo da minha alma. Habitava em mim, até então uma tristeza serena. Calma na certeza de que o fim era permanente. Assim o cria. No entanto, algo mudou. Em ti, algo mudou. A dúvida apoderou-se de ti. Tu fraquejaste. Na tua fachada, alva, surgiram fissuras. Uma nuvem manchou um céu azul. 

E eu, que nunca considerei que houvesse uma margem a onde chegar, nem uma oportunidade pela qual suspirar, dei por mim perdido. A minha tristeza serena, havia partido. A calma da solidão também. Mas nem por isso fiquei sozinho. A meu lado, prontamente, se sentaram a mágoa e a insónia. 

Neste contexto, acompanhado por quem não quero, espero um novo dia. Na esperança de que, quando este surgir, o teu espírito se manterá o mesmo. Que as minhas companheiras encontrem novos poisos. E que a fantasia que criamos volte, uma vez mais, a ser real.

Friday, August 20, 2010

P.S.:

Por vezes penso que me enganei na vida que escolhi, depois olho à minha volta e vejo que a minha razão de viver ainda está lá. Sempre a sorrir para mim.

Saturday, July 03, 2010

Mapa

Soltaste a mão e eu esqueci me de olhar para trás para ver se me seguias. Foi, assim, que acabei aqui.

Friday, April 23, 2010

continuo a ser a mesma criança mimada

Quero voltar a aproveitar um pôr do sol laranja. Pisar a areia húmida e pensar noutra coisa que não o trânsito, as notícias e as gotas de chuva que batem na minha janela. E os livros e os trabalhos.

E quero tanta coisa... mas o que eu queria mesmo era ver as coisas novamente pela primeira vez. Experimentar o medo e o espanto. Apagar o quadro e reescrever a história. Quem me dera ter amnésia...





Não haverá, por acaso, aí alguém que me queira bater com um taco para ver se resulta?

Sunday, April 11, 2010

one frozen second that could change the world

Por vezes nem sabemos o que nos espera. Outras sabemos e mesmo assim conseguimos espantar-nos com o resultado. E é normal, pois por muito que queiramos dizer que controlamos a nossa vida rendemo-nos, várias vezes, à evidência que não somos apenas nós quem define o nosso rumo. Apesar de precisarmos de acreditar que sim.
Por isso, abandonamos as ideias de fragilidade e fado. Forçamo-nos a ver que em todos os momentos poderíamos ter optado por uma escolha diferente, alterando o resultado e, consequentemente, o nosso trajecto.

Quando chegamos a este ponto começamos a notar quais os momentos-chave e efectuamos a nossa "mortificação psicológica". Por outras palavras, escolhemos um instante fulcral, paramo-lo no tempo e repetimo-lo vezes sem conta, imaginando os milhões de respostas que podíamos (e gostaríamos de) ter dado, que podiam ter mudado o curso da nossa história.
Os que gostam de se auto-flagelar, guardam essas memórias por anos, deixando que esse segundo se espraie infinitamente, enquanto a vista se lhes tolda, o cansaço toma conta do corpo e as recordações os deixam velhos e gastos. Outros relembram esse momento com carinho e serenidade. Revisitam tudo o que antecedeu. Notam que cresceram com isso. E são capazes de olhar para o futuro e deixar o passado ser isso mesmo.

Eu, que sei que não consigo controlar o que se passa, deixo que esse segundo se cristalize no tempo. Agarro-o, contemplo-o e depois, tão depressa como passou, liberto-o. Solto-me dessa recordação e desse instante e consigo vislumbrar o futuro.

Hoje, que a cidade já dorme, penso novamente nas histórias que ela me podia contar e sei que uma delas tem de ser a minha. Um sorriso inesperado solta-se e eu vou à sua procura.

Monday, March 15, 2010

Sento-me e vejo o mundo correr à minha volta. Nada é meu, nada do que se passa me é familiar.
Já não consigo pensar nisso.

Lembro-me de ontem. Estava no centro de Lisboa, com os carros e o barulho, quando de repente a cidade se cala. Parecia o cenário de um filme western. Por um momento, consegui ouvir um pardal castanho, de bico curto e mordaz, a chilrear a sua cantoria, ouvi as águas que corriam nos canos, outrora novos e alegres, por baixo dos meus pés, escutei o estalar das pedras que se queixavam da passagem do tempo que levemente lhes retirava a forma e a alegria da cor e o vento com a sua melodia suave. E enquanto, pensava que até havia um certo traço de felicidade nesta serenidade inesperada, que eu sorvi tão bem, algo abalou este silêncio.
Tac... passam dois segundos e novamente tac... Tento descobrir o que fazia este barulho e, mais uma vez, tac.. Tudo calado e só este "tac" permanece. O pássaro voou, os canos calaram-se e as pedras endureceram. E eu, tentava descobrir que barulho afectava a minha serenidade.
Tac e, por final, descubro o que destruía a minha realidade, segundos antes feliz. Tudo se transforma em mágoa ao descobrir quem causava o ruído. Eu, estático, espantado, imóvel. Ele, idoso, cego, frágil. Nesse momento desabou o meu mundo. Sozinho e perdido neste espaço frio e cruel. Só eu, a minha ignorância e quem perturbava o meu silêncio.

E é, por isso, que me sinto uma besta...

Tuesday, March 02, 2010

bati com a cabeça e saiu isto

As pessoas ficam escandalizadas quando lêem mentiras no Correio da Manhã. Eu fico espantado quando elas são verdade.