Saturday, September 30, 2006

Deitar as coisas fora... talvez mudar

Talvez despejar os maus hábitos, aquela postura postiça ou a atitude positivista que, na verdade, não leva a lado nenhum. Sei que a reciclagem está muito em voga, hoje em dia, mas há coisas que têm de ir para o lixo.
É tão fácil deitar uma coisa fora, mas quando nos toca a nós parece sempre demasiado difcil. Quanto mais tempo passa, menor é a nossa capacidade para abdicar de coisas que tínhamos por certas. Esta é possivelmente a minha maior falha: a minha incapacidade de mudar.
No entanto, apercebi-me que não sou o único. Ficar parado, enquanto tudo à nossa volta muda (ou aparenta mudar), é estranhamente confortável, porque pelo menos a sensação é familiar.

Porque se tentarmos mudar, se fizermos algo que ninguém está à espera, dermos o passo em falso, quem sabe o que pode acontecer? Será que temos mais medo do mal desconhecido, em oposição daqueles que podem ser piores, mas que já conhecemos? Por isso, maior parte das vezes, afastamo-nos do caminho insondado e percorremos a estrada mais sinuosa mas já explorada. E não acontece nada que seja estranho e não parece assim tão mau. Afinal não estamos a fazer mal a ninguém... talvez a nós, um pouco.

Mas há uma altura em que mudamos, e quando isso acontece não é como nos filmes, não passamos a ser uma personna totalmente distinta, nem acontece dum momento para o outro. São as coisas pequeninas, aquelas em que ninguém repara, a não sermos nós. Mas nós notamos que algo aconteceu e isso faz toda a diferença.

Thursday, September 21, 2006

"So Long Sweet Summer"

É tempo de dizer adeus, mesmo que por meses, ao Verão.
É tempo de dizer adeus aos fins de semana na praia, ao "calor que mata" (como dizia há dias uma repórter), às noites agradáveis, com aquele bafo quente e aconchegante. Despedimo-nos dos amores de verão, daquela rapariga bem bonita, que se passeava na piscina, de biquini, como se todo o mundo a estivesse a observar.

Por outro lado, este é o início das preocupações, dos estudos, o regresso ao stress habitual. É também recomeçar as aulas, em sítios novos ou no sítio do costume.
A vida regressa ao seu compasso normal. As ruas voltam a estar repletas de formiguinhas, que se deslocam, para o trabalho. O trânsito volta a entupir todas as artérias da cidade, como colesterol no corpo humano. Os assaltos, violações e mortes voltam ao seu ritmo comum. E as televisões (esses Lordes da informação), voltam a encher o seu horário com as histórias do costume, como a maior abóbora do mundo ou quem consegue atirar o seu telemóvel (neste caso tijolo) mais longe. Há ainda algumas estações que preferem dar-nos histórias de pseudo misericórdia, que já cansaram toda a gente.

E é assim que tudo recomeça, neste país que esteve encerrado para férias.

Saturday, September 09, 2006

Quero nunca ter de dizer adeus...

Não consegui encontrar as palavras. A realidade continuou e eu fiquei parado à espera de ti, da tua acção.
Não sei como dizer adeus, perdi-me nas emoções e recordações que trazes, tornando este momento ainda mais implacável.
Não consigo acreditar que chegou ao fim, não fui capaz de adiar o inevitável, de trancar a porta do tempo, de fugir da verdade que é ter de te dizer adeus.
Não sei como dizer, mas tento. Porque sei que quero dizer mais, mas não consigo. As palavras são poucas e o seu significado é menor do que aquilo que, na verdade, quero dizer.
Não consigo encontrar a palavra certa, a expressão exacta que defina o que está a acontecer. Não consegui dizer que te acho bem bonita. Que gosto de ti, que sempre gostei.

Não sei como dizer nunca mais. Porque é difícil compreender o que é real, quando tudo parece errado. Porque sinto que nos voltaremos a encontrar, que os nossos caminhos estão entrelaçados.
Não gosto de despedidas. Dizer adeus é uma arte que deveria ser ensinada nas escolas; para estas situações, por exemplo. Mas também não tenho de dizer adeus, pois não? Creio que um até logo também serve... Mas mesmo assim, não sei como o hei-de dizer, por isso, aqui estou, a escrever... para não ter que te dizer adeus... nunca.

"Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti"

Alexandre O'Neil, Um Adeus Português



Friday, September 08, 2006

Retratos

Cada um pinta a sua imagem como quer. Como disse P.C.: "Toda a gente é feita de materiais diversos. Uns mais luminosos, outros escuros, uns doces, outros cheios de arestas... E há ainda pessoas que são tudo isso, mas ainda assim não encaixam nessa categoria."
Eu não me consigo definir. Não por ser demasiado bom ou demasiado mau, não é falta ou não de modéstia, nem uma falsa modéstia. Não se trata disso! É apenas a incapacidade de explicar a minha essência. Podia dizer-se que o meu retrato é demasiado nublado para descrever. Pinceladas, aparentemente, lançadas ao acaso.
Neste endereço sou assim. Algo incerto, muito vago, um mistério. No entanto, quando saio deste endereço, sou uma pessoa diferente daquela que aqui escreve. Mais pacífico, mais moderado, mais adaptado ao meio pelo qual passeio. Usando uma máscara social, que ninguém admite que usa, mas que toda a gente ostenta. Neste espaço de liberdade escrevo o que quero, digo o que acho que devo dizer, penso alto com o mundo. Aqui "deitei fora a máscara e dormi no vestiário como um cão tolerado pela gerência". Aqui sou eu, sem medos ou interesses. Só eu.
E tu, quem és?