Sunday, February 28, 2010

Livre

O dia que esperas que nunca chegue. O momento em que o coração se rasga e tu, a pouco e pouco, contorces-te e tentas parar a dor. Não consegues. Todos os momentos são errados, este mais que todos. Nada corre bem. O café sabe a merda. Está de chuva. Esqueceste-te do que precisavas. Pontapeias a secretária. Esmurras a parede. Sentes uma dor nova que atenua a anterior.
Apetece-te correr. Nunca parar. Envergas a cara de quem não quer saber o que o mundo pensa. Não queres mesmo. Libertas-te das grilhetas e do peso que te puxava para o fundo. Não pensas. Queres dizer tudo o que te vem à boca.
Intrépido, corres contra a chuva e contra maré. O vento corta-te as feições outrora jovens e a água contorna-te o corpo. Sentes-te mais leve, mas o cansaço já se apossou de ti.
Finalmente paras. Deitado na areia, pensas e queres ser um cão vadio. Consegues o que tanto ambicionas, ser aquele que sempre se quis soltar das correntes, mas que, até esse momento, nunca soube como.

Nesse momento, pegas num punhado de areia. Sentes as pedrinhas a brincarem com a tua palma enquanto lutam para sair e vê-las, quando saem, a voar com o vento. Encontras algo que tinhas perdido, a tua essência. Aí, soltas um sorriso e vês que tudo antes valeu a pena.

Saturday, February 27, 2010

is experiencing some technical difficulties

Tenho a cabeça cheia de frases e nenhuma se articula com a seguinte. Surge-me a imagem de estar a fazer um puzzle e querer encaixar peças, mas estas resistirem à minha vontade. Sou como um guarda-chuva onde propositadamente fizeram buracos e, por isso, já não sirvo para a minha função. Coloquem-me de lado, reformem-me.

Quero escrever uma história grandiosa, mas só me saem contos. Preciso de dizer algo, mas não sei bem o que poderá ser. Quero pintar o mundo e fazê-lo vibrar, mas perdi a paleta onde tinha todas as minhas cores.

Hoje sou o palhaço pintado a preto e branco. Hoje sou a máquina de escrever que ganha pó ao lado do portátil. Hoje sou o miúdo que antes fui e que se perguntava de que serviria isto tudo e se não seria apenas um exercício fútil.

Mas hei-de erguer-me. Porque cair é um exercício da gravidade e levantar-se uma resposta natural de quem batalha. Hoje vou fazer melhor, vou juntar as palavras e criar uma frase fantástica, bem talvez apenas decente, mas algo que prove que ainda sou útil, algo como:

Guardar fotografias? Guardem-nas na vossa imaginação, pois lá ficarão as recordações que vos são mais queridas. Além disso, nunca precisarão de explicar aos familiares porque não têm as deles.

Ainda não, não é...? Bem, talvez amanhã seja o dia, quem sabe...

Saturday, February 20, 2010

Fernando Pessoa era sábio e disse...

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."

Porque por vezes o que é preciso é caminhar sem direcção. Só para mudar de rumo.