Sunday, February 28, 2010

Livre

O dia que esperas que nunca chegue. O momento em que o coração se rasga e tu, a pouco e pouco, contorces-te e tentas parar a dor. Não consegues. Todos os momentos são errados, este mais que todos. Nada corre bem. O café sabe a merda. Está de chuva. Esqueceste-te do que precisavas. Pontapeias a secretária. Esmurras a parede. Sentes uma dor nova que atenua a anterior.
Apetece-te correr. Nunca parar. Envergas a cara de quem não quer saber o que o mundo pensa. Não queres mesmo. Libertas-te das grilhetas e do peso que te puxava para o fundo. Não pensas. Queres dizer tudo o que te vem à boca.
Intrépido, corres contra a chuva e contra maré. O vento corta-te as feições outrora jovens e a água contorna-te o corpo. Sentes-te mais leve, mas o cansaço já se apossou de ti.
Finalmente paras. Deitado na areia, pensas e queres ser um cão vadio. Consegues o que tanto ambicionas, ser aquele que sempre se quis soltar das correntes, mas que, até esse momento, nunca soube como.

Nesse momento, pegas num punhado de areia. Sentes as pedrinhas a brincarem com a tua palma enquanto lutam para sair e vê-las, quando saem, a voar com o vento. Encontras algo que tinhas perdido, a tua essência. Aí, soltas um sorriso e vês que tudo antes valeu a pena.

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